_imprensaoficial

logo_gov_sergipe
O que você procura?
Sites do governo

Agricultor de Jaguaré realiza plantio de pimenta-do-reino em troncos de nim

18/06/2014


Cultivar a pimenta-do-reino no tronco de uma planta que realiza o controle natural de insetos, o nim (Azadirachta indica), tem reduzido bastante a incidência de pragas na produção do senhor Aristeu Nardi, agricultor que reside no município de Jaguaré. Há cerca de quatro anos, ele iniciou essa experiência em uma lavoura de 600 pés de pimenta, que se tornou uma unidade de observação acompanhada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), órgão vinculado à Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Agricultura e Pesca (Seag).

De acordo com o senhor Aristeu, um agricultor que adota práticas agroecológicas, o motivo principal que o levou a iniciar essa experiência foi a necessidade de utilizar um tutor para o plantio da pimenta que fosse econômico e não estivesse contaminado com produtos químicos. “Eu já tinha o nim plantado em minha propriedade e utilizava seu óleo como inseticida natural. Por meio do contato com o Incaper, tomei conhecimento da possibilidade de utilizá-lo como tutor vivo, natural, para o plantio da pimenta, o que é fundamental para a produção agroecológica dessa cultura”, relatou Aristeu.


ALTERNATIVA AGROECOLÓGICA - O senhor Aristeu disse que, há mais de 10 anos, possuía 3 mil pés de pimentas plantados no sistema convencional. Porém, devido a uma doença chamada fusariose, toda sua lavoura foi devastada, fato que fez com que ele buscasse novas alternativas dentro dos princípios agroecológicos.

“A agroecologia oferece conhecimentos e os caminhos para desenvolver uma agricultura ambientalmente adequada, socialmente equitativa e economicamente viável. Através da aplicação dos princípios agroecológicos, é possível fazer um melhor uso dos recursos da propriedade, minimizar o uso de insumos externos, reciclar e gerar recursos no interior dos agroecossistemas, como é o caso da utilização do nim como tutor vivo da pimenta”, falou Aristeu.

COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA - Segundo o pesquisador do Incaper, José Aires Ventura, que também visitou a propriedade do senhor Aristeu, a unidade de observação de pimenta-do-reino instalada na área com o nim como tutor vivo é bastante promissora. “A atividade do nim como inseticida natural já possui comprovação milenar. No entanto, sua utilização como tutor vivo na pimenta-do-reino tem mostrado bons resultados, além de também poder servir como repelente natural de afídeos, que são vetores de uma virose desta planta, mas que ainda precisa de comprovação científica. A unidade de observação possui uma série de indicadores que apontam que a utilização do nim pode facilitar a condução do pimental. No entanto, somente a comprovação científica pode validar essa tecnologia a fim de disseminá-la entre os agricultores”, falou José Aires.

O próprio Aristeu aponta a importância da validação da experiência pela pesquisa. “Mantenho o plantio de 600 pés de pimenta em tutores vivos de nim desde o início de utilização da técnica. Mesmo com bons resultados, não aumentei o plantio justamente porque é preciso comprovar esses resultados cientificamente”, relatou.

MANEJO DA LAVOURA - A lavoura do senhor Aristeu é conduzida pelos princípios da agroecologia, sem a utilização de agrotóxicos, adubos químicos ou qualquer outro tipo de agroquímico. “O produtor utiliza apenas fosfatos naturais, calcário proveniente de algas marinhas, diversas formas de adubos orgânicos, adubação verde, cobertura morta, biofertilizantes, produtos de origem biológica, inseticidas naturais, como óleo de nim, bioalho, entre outros”, explicou o extensionista do Incaper Valchirio Martins.

Ele disse que a lavoura é irrigada por micro aspersão e o manejo do mato nas estrelinhas é feito através de roçadas. “O mato é utilizado como cobertura morta para manter o solo protegido e com umidade necessária ao bom desenvolvimento das plantas”, disse Valchirio.

O manejo correto das copas das árvores de nim é uma das práticas mais importantes para o equilíbrio do sistema. “Anualmente, são feitas duas podas de manejo das copas para manter a luminosidade necessária para o bom desenvolvimento e produção da lavoura”, falou o extensionista de Jaguaré.

Destaca-se ainda que as plantas de pimenta-do-reino são altamente sensíveis à falta de luminosidade e o excesso de sombreamento interfere significativamente na produtividade da lavoura. Dessa forma, deve-se utilizar um espaçamento adequado e efetuar o cultivo no sentido leste/oeste para facilitar o manejo e proporcionar maior luminosidade para as plantas.

REDUÇÃO DE CUSTOS - Outra vantagem percebida com a utilização do tutor vivo de nim para cultivo de pimenta-do-reino é a redução no custo de implantação da lavoura. De acordo com o extensionista do Incaper, Valchirio Martins, o custo de produção de 1 hectare de pimenta, no que se refere à compra de estacas, despesas com transportes e fixação é de, aproximadamente, R$ 16 mil. Esse valor representa 55% do custo total de implantação da lavoura no primeiro ano.

Com a utilização do tutor vivo de nim ao invés do eucalipto, os custos são bastante reduzidos. “No primeiro ano de implantação de uma lavoura de 1 hectare gastam-se R$ 4.100,00 com a aquisição de mudas, plantio e manutenção do nim. A partir do segundo ano, há um custo adicional de manejo das copas das árvores de nim, que é feito duas vezes ao ano. Essa prática representa um acréscimo de, aproximadamente, R$ 2.700,00”.

“Ressaltamos que não estamos comparando o custo de produção de uma lavoura convencional com o cultivo agroecológico da pimenta-do-reino. Consideramos apenas as despesas decorrentes da utilização de tutores vivos em relação ao uso de tutores de eucalipto tratado, visto que aquela opção poderá ser utilizada em qualquer uma das modalidades de cultivo”, esclareceu Valchirio.

TÉCNICA - A experiência do senhor Aristeu Nardi animou produtores de pimenta de municípios do Norte capixaba. De acordo com o chefe do escritório local do Incaper em Ecoporanga, Geraldo Francisco Costa, após a realização de uma excursão técnica a Jaguaré em maio, quatro unidades de observação dessa tecnologia começaram a ser implantadas no município.

“Agricultores que já trabalham com pimenta-do-reino no modelo convencional e outros que começaram a trabalhar agora com essa cultura gostaram do que viram em Jaguaré. Muitos tiveram as lavouras exterminadas pela fusariose. Agora enxergam no nim uma possibilidade de repelente natural para os insetos da pimenta”, disse Geraldo.

PRODUÇÃO - Os dados da Seag, nos últimos três anos, demonstram que os preços da pimenta-do-reino permaneceram em alta, fato que animou produtores e empresários do setor. Somente no primeiro semestre de 2013, foram exportadas quase 3,6 mil toneladas de pimenta para os Estados Unidos e vários países da Europa e Ásia, um volume 83% superior em relação ao mesmo período de 2013. As divisas geradas com as exportações somaram US$ 22,5 milhões de janeiro a junho deste ano, ficando atrás apenas de celulose e cafés, no ranking das exportações do agronegócio capixaba.

“A expansão e a renovação dos plantios, aliadas à melhoria da qualidade do produto verificadas nos últimos anos, comprovam a rentabilidade da atividade, que gera mais de R$ 70 milhões por ano de renda bruta para os produtores”, contabilizou Valchirio.

O Estado do Espírito Santo é o segundo produtor e exportador nacional, com 6,7 mil toneladas de pimenta-do-reino produzidas anualmente. A atividade é tipicamente familiar, pois ocupa 2,9 mil hectares em 2,4 mil propriedades rurais. Os plantios concentram-se no Norte do Estado, tendo como destaque os municípios de São Mateus e Jaguaré, com mais de 75% da área cultivada e da produção. O rendimento médio das lavouras está em torno de 2.700 a 3.000 kg por hectare, porém, existem produtividades de até 5.000 kg por hectare.

 

FOTO: Assessoria de Comunicação / Incaper

(Os textos publicados são produzidos pela Rede de Comunicação do Governo do Espírito Santo)