O beiju, delícia feita com a fécula extraída da mandioca, é um dos atrativos da cidade de São Mateus, localizada no Norte do Espírito Santo. E também a garantia de renda extra para muitas famílias descendentes de quilombolas.
O farinheiro e beijuzeiro Domingos da Penha, morador da comunidade de Divino Espírito Santo, exerce o ofício há mais de 40 anos. Aprendeu com os pais e já transmitiu o saber para seus filhos, que o ajudam na produção. Ele explica que vem da venda do beiju a maior parte da renda familiar. Em sua comunidade, que é pioneira na produção de beiju, cerca de 40% das famílias movimentam a economia baseada nesta tradição.
Atualmente, seu ponto de venda é a feira do município, mas, visando ampliar a produção, e, consequentemente, o lucro, Domingos da Penha está emitindo toda a documentação necessária para que seja um fornecedor formal. “Vendendo beiju artesanal eu garanto uma vida melhor para a minha família e mantenho a tradição aprendida com meus pais”, declara.
Segredos - No trabalho, Domingos da Penha conta com uma ajudante muito especial: a esposa Maria do Carmo. Ela nasceu e cresceu na mesma região onde os dois moram com o seu pai, fazia tapioca e farinha de mandioca. Ao casar, passou a dedicar-se ao ofício do marido e, desde então, sua atenção total é à produção do beiju.
Maria da Penha afirma que não há nenhum segredo para o sucesso do beiju feito por sua família. “Mas não abrimos mão da higiene do local onde trabalhamos. Temos muito cuidado com a goma, desde a hora de fazê-la até quando entregamos nas mãos dos consumidores. Acredito que esse cuidado é reconhecido e, por isso é que muitos clientes acabam voltando para comprar nosso produto, especialmente os turistas”, afirma.
Alavancando as vendas - A família de Domingos da Penha e de outros que incrementam a renda com a venda do beiju aguardam, com ansiedade, o ‘Festival do Beiju’, que integra o calendário cultural do Espírito Santo e acontece anualmente, com o objetivo de incentivar as práticas culturais quilombolas. “Nessa festa muita gente vende uma quantidade considerável. Também conhecemos novas pessoas que acabam virando nossos clientes”, garante o farinheiro.
Outra vitrine para o trabalho dos beijuzeiros é o ‘Circuito do Beiju’, projeto da Secretaria de Turismo de São Mateus, que possibilita ao visitante acompanhar a confecção do alimento e, claro, degustá-lo. O circuito é formado pelas comunidades de descendentes de quilombos: Divino Espírito Santo, Santa Luzia e Bom Pastor.
Quilombolas e o beiju - A tradição de fazer o beiju nas comunidades quilombolas passa de geração a geração, entre mulheres, homens e crianças visando preservar e não deixar perder suas raízes. Para eles, a importância do beiju vai além do alimento ou fonte de renda: é um símbolo de resistência.
A produção do beiju nas casas de farinha é sempre feita de forma coletiva e, ao final, é repartido com quem ajudou e o restante é destinado às feiras para comercialização. Os saberes e fazeres acumulados pelos mais velhos das comunidades quilombolas é fundamental, principalmente, por causa das variedades mais conhecidas como beiju de lenço, beiju de massa, beiju de roda, beiju de fati, beiju de caroço, beiju de coco, beiju de amendoim e outras.
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