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Ações de extensão rural contribuem para fortalecer tradições indígenas

24/04/2014


No último dia 19 de abril, foi celebrado o Dia do Índio. Aqui no Espírito Santo, além de comemorar a resistência dos povos indígenas, é importante destacar as ações que têm sido feitas nessas comunidades com o objetivo de fortalecer suas tradições e cultura. Por isso, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) apresenta o trabalho desenvolvido pela instituição e parceiros nas aldeias indígenas do município de Aracruz.

No ES, existem, atualmente, 10 aldeias indígenas no município de Aracruz, sendo seis da etnia Tupinikim e quatro da Guarani. De acordo com o cacique da aldeia de Areal, Jonas do Rosário, no Dia do Índio as aldeias comemoram a resistência desses povos. “No dia 19 de abril, comemoramos nossa grande resistência. Nossos antepassados já se foram, mas nós persistimos aqui”, afirmou o cacique.

Ele também explicou que uma das maiores conquistas recentes das comunidades indígenas no Espírito Santo foi a reconquista de seu território. “Trabalhamos para as futuras gerações terem condições de garantir seu sustento na terra. As aldeias indígenas estão crescendo, não somente porque os índios não aldeados estão voltando, mas porque há muitos jovens tendo filhos”, disse o cacique.
 
DEMANDAS DAS ALDEIAS - Com o objetivo de contribuir com ações de assistência técnica e extensão rural com as comunidades indígenas de Aracruz, o Incaper realizou, durante o segundo semestre de 2013, Diagnósticos Rurais Participativos (DRP’s) envolvendo todas as aldeias indígenas do município. A intenção foi levantar demandas das comunidades para integrar ao Plano Municipal de Desenvolvimento Rural.

“Os indígenas apontaram uma grande necessidade de resgatar e fortalecer suas tradições. Demonstraram interesse pelo trabalho com atividades sustentáveis e demandas para comercialização de produtos nas feiras municipais”, afirmou o chefe do escritório do Incaper em Aracruz, Luiz Carlos Pereira do Sacramento.

De acordo com o cacique Jonas, as aldeias contam com um grande reforço do Incaper para recuperar tradições que eles sempre tiveram, sobretudo na área agrícola. “Antes da derrubada das nossas matas, já tínhamos nossas próprias técnicas agrícolas. Havia um equilíbrio na natureza. Hoje, no entanto, como houve um grande desmatamento, nós percebemos que a terra está cansada, está fraca. Então, temos que ter um reforço para garantir uma terra boa. Por isso, o Incaper está nos ajudando com técnicas de adubação que não agridem o meio ambiente”, falou o cacique.

O cacique Jonas relatou que, antigamente, não era necessário o uso de adubo, pois plantavam com o auxílio de cinzas que fertilizavam a terra. “Hoje temos que inserir um adubo orgânico, pois queremos um projeto sustentável para as comunidades. As chuvas também sofreram alterações, são irregulares. Como não há cobertura vegetal abundante, as plantas sofrem muito. Por isso, queremos reflorestar nossa área”, disse Jonas.

Atualmente, os indígenas cultivam mandioca, feijão, milho, banana, abacaxi, cana, entre outros. Por isso, o caminho da comercialização dos alimentos está entre uma das propostas futuras do Incaper com as comunidades. “Pretendemos articular para que a produção excedente que existir possa ser comercializada para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e para a feira municipal. Por isso, queremos incentivar a diversificação das culturas nas aldeias indígenas”, falou Sacramento.

Um projeto de iniciativa da Fibria em parceria com a Kambôas Socioambiental, com apoio do Incaper e Secretaria Municipal de Agricultura de Aracruz, é o Plano de Sustentabilidade Tupinikim e Guarani no Espírito Santo, que possui três eixos de atuação: apropriação de conhecimentos para a gestão territorial e ambiental das terras indígenas; o uso sustentável dos recursos naturais e o fundo de apoio às iniciativas comunitárias indígenas. Com foco nesses eixos são desenvolvidas atividades de fortalecimento dos coletivos; recuperação de sementes crioulas para plantios nas roças e quintais; enriquecimento das terras com sistemas agroecológicos; meliponicultura e restauração florestal.  

Uma das ações de destaque é a organização da rede de coletores de sementes e mudas para reflorestamento. Por meio do plantio de espécies nativas, muitas sementes que existiam antigamente nas aldeias têm sido recuperadas. São beneficiadas, armanezadas e distribuídas entre as comunidades indígenas sementes de girica (saboneteira), boleira, coco naiá, coco imbuí, geri, feijão de porco, algodão, mulungu, entre outras. Atualmente, mais de 80 espécies de sementes têm sido coletadas nas aldeias indígenas de Aracruz. Oficialmente, há 89 coletores, ou seja, integrantes das comunidades que possuem a função de coletar as sementes.

Além de serem compartilhadas entre as aldeias indígenas, as sementes também são destinadas a reflorestar uma área de 17 hectares na aldeia de Pau Brasil. De acordo com o projeto, a proposta é integrar as aldeias por meio de corredores ecológicos. O ponto de partida foi a aldeia de Pau Brasil, cuja área de reflorestamento deve ser ampliada para 50 hectares ainda neste ano.

Para a esposa do cacique de Areal, Zilma Maria Santos Vicente, que é uma das coletadoras e organizadoras do banco de sementes, essa ação contribui para a recuperação de tradições nas comunidades. “Nós reconquistamos nosso território, mas as terras estão desmatadas. Não encontramos mais determinadas árvores de onde tirávamos matéria-prima para nossos artesanatos. Por isso, estamos cultivando sementes e replantando mudas de árvores frutíferas”, disse Zilma.

Outro trabalho com sementes é o fortalecimento da Rede de Sementes Crioulas. Um tipo de semente que foi cultivada na aldeia de Areal foi a de milho. Por meio de doação da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), sementes do milho Fortaleza, vindas de um assentamento no município de Muqui, foram cultivadas na aldeia. Agora, a semente já está adaptada às condições de solo e clima da região e foi denominada ‘Fortaleza do Areal’.
 
GUARDIÃS DAS SEMENTES - A atividade de coleta das sementes tem sido conduzida, prioritariamente, por mulheres, uma vez que elas utilizam esse material para a produção de seus artesanatos. De acordo com a presidente da Associação Tupinikim da aldeia de Areal, Josy Pereira Ferreira, toda matéria-prima de seus artesanatos vem da mata, por isso a preocupação com o reflorestamento.

“Costumamos dizer que a mata é nosso ‘supermercado’. É onde vamos buscar nossos materiais. No entanto, não encontramos de tudo lá, pois muita coisa foi perdida. Por isso, abraçamos o projeto da rede de sementes para resgatar nossas tradições”, afirmou Josy. O artesanato indígena é formado por cestarias, colares, brincos e objetos talhados em madeira.

A indígena afirmou que os artesanatos, além de serem vendidos sob encomendas, estão sempre expostos nas feiras de iniciativa estadual, entre elas a Expotur e Feira da Agricultura Familiar e Reforma Agrária do Espírito Santo (Feafes).

Outro destaque do Plano de Sustentabilidade Tupinikim e Guarani são as ações de meliponicultura, criação racional de abelhas sem ferrão. Atualmente, há de 20 a 25 famílias indígenas inseridas nessa produção, que resgata espécies polinizadoras exóticas, como a abelha uruçu amarela.

INCENTIVO À PISCICULTURA - Outro trabalho desenvolvido pelo Incaper é o incentivo à criação de tilápias em tanques-rede nas aldeias indígenas. Foram recebidos 24 tanques por meio do Ministério da Pesca. O papel do Incaper é de orientar as comunidades sobre como cultivar os peixes e fazer a gestão dessa produção.

“Os indígenas já possuem a prática extrativista no que se refere à pesca. A sua produção de peixe pode ser incrementada. Esse é um dos anseios da própria comunidade. A pesca é uma atividade que faz parte de sua cultura, por isso tende a ter grande êxito”, afirmou o engenheiro de pesca do Incaper, Wathaanderson Rocha.

Ele falou que o Instituto está trabalhando para que os peixes possam ser comercializados para o PAA. Há um grande potencial hídrico na região e muitas aldeias estão às margens dos rios. De acordo com o engenheiro de pesca, é possível que as aldeias produzem 50 toneladas de tilápia por ano.

 

FOTO: Assessoria de Comunicação / Incaper

(Os textos publicados são produzidos pela Rede de Comunicação do Governo do Espírito Santo)