A 17ª edição da caminhada “Os Passos de Anchieta” começou ontem (19) e segue até domingo (22). Primeiro roteiro cristão das Américas, a caminhada resgata o trajeto percorrido pelo Padre José de Anchieta nos últimos anos de vida e já se consolidou como um dos mais importantes atrativos turísticos do Espírito Santo.
O evento é promovido pela Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta (Abapa) com o apoio da Secretaria de Estado do Turismo (Setur).
Retomado há 13 anos, o roteiro é o quarto desse tipo existente no mundo – os outros três são os famosos caminhos de Santiago de Compostela, na Espanha; a trilha da Terra Santa, em Jerusalém; e a de Roma, na Itália.
Uma grande caminhada anual congrega centenas de andarilhos que a iniciam sempre no dia de Corpus Christi para concluí-la no domingo. No trajeto, é possível apreciar as paisagens que inspiravam o beato e mergulhar nas reflexões que a jornada oferece.
A caminhada é feita em quatro dias, divididos pelos seguintes trechos: no primeiro dia, de Vitória – cujo marco inicial é o Palácio Anchieta – à Barra do Jucu, em Vila Velha, quando são percorridos em média 25 quilômetros; no segundo dia, da Barra do Jucu até Setiba, em Guarapari, perfazendo 28 quilômetros; no terceiro, entre Setiba e Meaípe, percorrendo 24 quilômetros, ainda em Guarapari; e no quarto dia de Meaípe até Anchieta, num percurso de 23 quilômetros, finalizando o evento na Igreja Matriz do município.
HISTÓRIA - Os Passos de Anchieta se estendem pela rota de 100 quilômetros no litoral do Espírito Santo onde ele escolheu viver os últimos anos de vida.
O caminho entre Vitória e Anchieta é uma rota histórica, cultural, turística e religiosa que recupera o roteiro das caminhadas regulares que o Padre José de Anchieta empreendia a cada duas semanas, deslocando-se a pé de Reritiba, aldeia dos índios temiminó, no Sul do Espírito Santo, até o colégio de São Tiago, na então Vila de Vitória, que no século XX foi transformado no Palácio Anchieta, sede do Governo do Espírito Santo.
José de Anchieta, depois de liberado das funções evangelizadoras em São Paulo, buscou a Vila de Reritiba, cidade de Anchieta, porque o local lhe evocava a sua San Cristobal de Laguna, nas Ilhas de Tenerife, que ele deixara ainda adolescente para cumprir seu sacerdócio. Ali ele escolheu ficar, de 1587 a 09 de junho de 1597, quando morreu, tendo seu corpo transportado até Vitória por um cortejo de três mil índios em melancólica reverência.
Atribuem-se ao Padre Anchieta feitos prodigiosos neste caminho, como abrir poços batendo com uma vara no solo, conversar com onças ou convocar as gaivotas para sombrear o sol abrasador nas andanças que fazia, vergado por uma tuberculose óssea que lhe deixara corcunda ainda na mocidade.
Primeiro mestre do Brasil, o beato foi também o precursor das artes cênicas brasileiras doutrinando os nativos através dos autos teatrais, professor, autor de uma gramática tupi que visava facilitar o entendimento da língua dos gentios e a transmissão da doutrina católica, e cientista que se aplicava em estudos da fisiologia dos animais.
Em suas vindas de Reritiba, que os historiadores relatam se realizarem em inacreditáveis dois dias, costumava pernoitar nas Vilas de Guarapari, Ponta da Fruta ou Vila Velha, na ermida da Penha (hoje Convento da Penha). Os registros históricos o relatam como um andarilho ligeiro que caminhava a frente dos robustos guerreiros que o acompanhavam, de onde surgiu o seu nome indígena de Abara-Bebe ou Carai-Bebe (santo voador ou homem-voador) devido à rapidez com que caminhava.
FOTO: Tadeu Bianconi
(Os textos publicados são produzidos pela Rede de Comunicação do Governo do Espírito Santo)